BENFICA

Rui Costas é humilhado na AG e involvem Viera (vídeo)

Será sob a presidência do sócio 13.520 do Benfica, José Pereira da Costa, investido na condição de principal figura da Mesa da Assembleia Geral do clube da Luz desde que Fernando Seara se demitiu, em plena reunião magna para aprovação dos novos estatutos, no último sábado, que decorrerá, sexta-feira, nova Assembleia Geral (AG) dos encarnados, desta feita para voltar a votar as contas do clube, que foram chumbadas numa primeira assembleia.

Diga-se, desde já, que não decorrerão outras consequências, que não políticas, do que vier a ser votado, porque os atuais estatutos não preveem qualquer sanção para a Direção em funções, em caso de segundo chumbo. O mesmo não aconteceria, porém, se os novos estatutos, que foram aprovados, no sábado, na generalidade, mas que ficaram, a menos de meio, no que à especialidade diz respeito, estivessem já em vigor, uma vez que determinam que se as contas do clube referentes a um determinado ano, receberem, em duas AG’s consecutivas, a reprovação dos sócios, isso implicará a queda da Direção.

Assim, estamos perante uma situação em que um novo chumbo representará uma humilhação para Rui Costa, que só terá consequências, nomeadamente eleições antecipadas, se o presidente em funções quiser. Por isso, trata-se de uma arma que os grupos que têm estado abertamente contra a política do antigo maestro da Luz, podem usar sem incorrerem na responsabilidade de ‘atirarem’ o clube para eleições, por um lado, mas mantendo o presidente fragilizado, por outro. A grande questão estará em saber se, destas guerras palacianas, vistas durante décadas do outro lado da Segunda Circular, o Benfica terá alguma coisa a ganhar.

TIRO AO RUI

Duas entrevistas recentes, a primeira de Luís Filipe Vieira, que durante mais de uma década afirmou estar em Rui Costa a pessoa ideal para suceder-lhe na Luz; e outra, de ontem, de Luís Mendes, ex-vice-presidente recém-demissionário, que chegou à Luz precisamente pela mão de Rui Costa, e na qualidade de pessoa de confiança do líder encarnado, funcionaram como uma espécie de abertura de caça ao antigo 10. Curiosamente, nesta fase, Rui Costa é acusado por Luís Filipe Vieira de ter desvirtuado o projeto que este vinha erguendo desde 2003; e Luís Mendes acusa-o de ter dado a mão ao chamado vieirismo, colocando Rui Costa numa posição de ser preso por ter cão e por não ter.

Deste estado de coisas, em que da parte de Vieira foram consideradas indesejadas pessoas que trabalham no Benfica, o mesmo acontecendo com Luís Mendes (coincidentes em relação a algumas, curiosamente), parece estar a ser poupado algum trabalho de desgaste e alguma retórica à oposição ‘tradicional’, que se apresenta com ideias mais extremas através de Francisco Benitez (que tem vindo, em abono da verdade, a temperar o discurso, e a procurar, até, posições de consenso, como no caso dos estatutos), e sob as vestes da tecnocracia, no que diz respeito a Noronha Lopes.

PRESENTES E AUSENTES

Qualquer destes benfiquistas e seus apoiantes não deixarão de estar, por certo, na AG (deixando alguma curiosidade quanto à presença de Luís Mendes, sócio do Benfica há 48 anos), não sendo clara a estratégia que irão adotar.

Com o campeonato ainda no primeiro terço, a equipa a dar sinais de recuperação pontual e exibicional, ultrapassada que foi a fase Schmidt e em grande parte feitas as pazes com o Terceiro Anel, não será risco demasiado para a oposição atirar o clube para uma crise social (deixando, imagine-se, Rui Costa numa situação entre a espada e a parede em que se vê obrigado a fazer uma fuga para a frente) que pode atingi-los em efeito ‘boomerang’? Todos os sócios e respetivos staffs atrás nomeados não são benfiquistas de aviário, seguem o clube há muitos anos, e sabem perfeitamente que uma coisa é ‘ganhar’ uma AG, onde se reúnem dois ou três mil sócios, outra completamente diferente é ganhar eleições com 40 mil votantes, sendo que, neste particular, a ‘morte eleitoral’ de Rui Costa anunciada por Luís Mendes – «perde para qualquer candidato, até para Vieira», disse -, arrisca-se a ser manifestamente exagerada.

Os clubes, que fazem do futebol a sua principal atividade, e apresentam contas que tanto podem merecer prata ou lata consoante as vendas são feitas uma semana antes ou uma semana depois do seu fecho, não são empresas iguais às outras, embora devam ser servidas por profissionais altamente qualificados. Porém, o estado de alma dos sócios depende sempre do andamento do futebol e será esse o dilema que se deparará de momento à oposição: se a equipa está a ganhar; se o treinador mal-amado foi substituído com êxito; se as contratações de fim de mercado fortaleceram o conjunto… não será demasiado arriscado, a um ano de eleições, precipitar qualquer crise?

Desta vez, na verdade, numa AG que não terá poderes para derrubar a Direção, a avaliação é apenas política.

OUTROS PROTAGONISTAS

Faltará falar de outros participantes na AG, que podem ser considerados não alinhados: os tradicionais sócios do Benfica que não fazem parte de qualquer fação, e que são, por natureza conservadores, gostando pouco de mudanças forçadas e de quem vai com demasiada sede ao pote, funcionando como uma espécie de maioria silenciosa que se faz ouvir especialmente nos atos eleitorais; e ainda os elementos da claque que, em muitas ocasiões, através de alguns dos seus membros, estabelecem o tom das reuniões. Não considerar a importância destas duas vertentes, é não ter ideia plena do universo representado.

Finalmente, valerá a pena, para dar uma sintonia mais fina a este momento, estar atento à reação do presidente do Conselho Fiscal do Benfica, Fonseca Santos, benfiquista de longuíssima data, que nunca foi de levar desaforo para casa, e que se viu confrontado com algumas afirmações de Luís Mendes. Depois da forma surpreendente como Fernando Seara se demitiu, Fonseca Santos, que tem um passado que fala por ele, não admitirá, por certo, qualquer melindre à sua pessoa.

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